Ex-presidente inelegível participou do lançamento da pré-campanha de Ramagem no Rio. Espaço vazio localizado.
O presidente Bolsonaro afirmou não temer ‘qualquer avaliação’ desde que haja imparcialidade do Judiciário. As declarações foram feitas durante um encontro do seu partido em Brasília.
O ex-mandatário Bolsonaro ressaltou que acredita na integridade do Poder Judiciário e espera que as decisões sejam baseadas na lei. A postura do ex-presidente tem gerado debates entre apoiadores e críticos do governo.
Bolsonaro em discurso polêmico sobre investigações da Polícia Federal
Em um discurso de quase 30 minutos, o ex-mandatário evitou falar diretamente das investigações da Polícia Federal sobre a suposta tentativa de golpe de estado que teria sido orquestrada por ele. ‘Eu poderia estar muito bem em outro país, mas decidi voltar pra cá com todo o risco.
Não tenho medo de qualquer julgamento desde que os juízes sejam isentos’, afirmou Bolsonaro, que teve seu passaporte apreendido devido ao inquérito. Bolsonaro disse ainda que sofre perseguições, fazendo menção ao fato de estar inelegível. Ele aproveitou o momento para fazer críticas ao atual chefe do Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
‘Quem se lança pré-candidato, o mundo cai na sua cabeça. Como vem caindo ainda na minha cabeça, porque eu sou um paralelepípedo no sapato da esquerda’, afirmou.
‘Me tornaram inelegível por quê? Primeiro porque eu me reuni com embaixadores. Eu não me reuni com traficantes numa comunidade’, completou, citando agendas que Lula já fez em favelas do Rio.
Em 2023, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) declarou Bolsonaro inelegível por 8 anos por abusos de poder durante a campanha de 2022.
O ex-presidente participou neste sábado do lançamento da pré-candidatura do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) à Prefeitura do Rio de Janeiro.
O evento, esvaziado, aconteceu na quadra da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel, na zona oeste da capital fluminense. Apoiadores do ex-presidente se concentraram em metade do espaço, que tem, segundo dados da escola, quase 1.700 metros quadrados e capacidade para cerca de 12 mil pessoas.
A Mocidade é uma das escolas mais tradicionais do Rio e tem como presidente de honra o bicheiro Rogério Andrade, que cumpre medidas cautelares por envolvimento com o crime organizado. A escolha do espaço, segundo a organização do PL, se deu por ser um lugar de fácil acesso na Avenida Brasil, um das principais vias da região metropolitana fluminense.
Diante de muitos espaços vazios na quadra, Bolsonaro pegou o microfone antes do início oficial da cerimônia e pediu para que fossem retiradas as grades que delimitavam uma área vip em frente ao palco. Assim, o público se concentraria em frente ao palanque.
Já em cima do palco, o cenário era outro.
Com muitas pessoas em cima do palanque, Bolsonaro também orientou para que só ficassem na frente quem tinha mandato. Impaciente, disse que os demais precisavam ficar nos fundos. A organização do evento também havia preparado um área externa para o público.
O espaço tinha tendas e um telão para transmitir os discursos dos políticos, mas ficou completamente vazio. A agenda faz parte da turnê que Bolsonaro iniciou esta semana para demonstrar sua popularidade mesmo com os avanços da investigação sobre uma suposta tentativa de golpe de estado que teria sido orquestrada pelo ex-chefe do Planalto.
Na sexta-feira (15), o ex-presidente participou de evento na Região dos Lagos, no Estado do Rio. Bolsonaro reuniu apoiadores em atos que lotaram ruas de Maricá, Saquarema, Araruama, Cabo Frio e Búzios.
Ao seu lado, estiveram seu núcleo mais fiel de aliados: Ramagem, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), primogênito do ex-presidente, e os deputados federais do PL do Rio Altineu Cortes, presidente estadual do partido, Sóstenes Cavalcante, um dos líderes da bancada evangélica, e Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde durante a pandemia.
Alvo de investigações da PF, Bolsonaro quer mostrar força com agendas desse tipo, reunindo apoiadores e lotando ruas.
No entanto, já há no entorno do ex-presidente quem fale que o cerco contra ele está se fechando. Conforme o Valor mostrou, aliados do ex-mandatário admitem que a situação dele se complicou após se tornarem públicos os depoimentos dos ex-comandantes das Forças Armadas no inquérito que investiga a tentativa de golpe.
As falas ligam diretamente Bolsonaro com a minuta golpista encontrada na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres. No pleito municipal carioca, investigações da Polícia Federal também atravancam os planos do ex-presidente. Desta vez, o alvo da corporação é Ramagem, suspeito de ter feito uso ilegal da Agência de Inteligência Brasileira (Abin) durante o tempo que esteve à frente do órgão.
Há um ar de incógnita sobre a candidatura do deputado federal. Isso porque, segundo líderes partidários de outras legendas, as siglas têm receio de se aliar com alguém cujo futuro político é incerto — na avaliação deles, as investigações contra Ramagem podem avançar a ponto de acontecer uma eventual prisão contra o ex-chefe da Abin.
Na agenda deste sábado, não esteve presente nenhum dirigente dos outros partidos. Estiveram apenas integrantes do PL, como o governador do Rio, Cláudio Castro (PL). Embora tenha discursado a favor de Ramagem, o chefe do Palácio Guanabara tem negociado, nos bastidores, uma aproximação com o atual prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), favorito à reeleição.
(Com conteúdo publicado originalmente no Valor PRO, o serviço de notícias em tempo real do Valor)
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Fonte: @ Valor Invest Globo