Pesquisa da Creditas mostra que o principal motivo para contratação de empréstimos é liquidar outras dívidas. A elevação da inadimplência preocupa o mercado.
A situação econômica no Brasil tem levado muitos cidadãos a acumularem dívidas para conseguirem fechar as contas no final do mês. Recentemente, um estudo realizado pela Creditas revelou que o desafio de liquidar as dívidas existentes é o principal motivo que leva as pessoas a buscarem novos empréstimos. De acordo com a pesquisa, 34,4% dos entrevistados apontaram essa como sua principal motivação.
O panorama financeiro atual tem tornado cada vez mais comum a necessidade de recorrer a empréstimos para quitar dívidas antigas. Com a dificuldade de pagar as contas em dia, muitas pessoas acabam optando por contrair novas dívidas para poderem regularizar sua situação financeira. Em momentos de aperto, o empréstimo se torna uma alternativa viável para resolver problemas com dívidas acumuladas.
Levantamento sobre Dívida e Empréstimos
Outros 3,4% dos mais de 16 mil respondentes assinalaram que contratam empréstimos com o objetivo de usar esse dinheiro para refinanciar outras dívidas.
A pesquisa da fintech de crédito foi rodada com funcionários de empresas parceiras, aquelas que utilizam serviços da área de benefícios da Creditas, entre eles o consignado privado.
Breve Análise do Perfil do Endividamento
Quase 68% das pessoas que responderam o questionário já fizeram empréstimos com alguma instituição financeira. ‘Considerados apenas aqueles funcionários [de empresas parceiras] que tomam empréstimos conosco, temos um perfil de cliente que vê nosso produto como um veículo para troca de uma dívida por outra‘, explica Ana Virginia, líder de negócios para a área de benefícios da Creditas.
Empréstimos e Inadimplência: Um Cenário Preocupante
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Qual é o perfil dos endividados no Brasil? Embora o público do levantamento não espelhe a realidade de toda a população brasileira, joga luz sobre um segmento dela.
No recorte da pesquisa, a realidade é a de trabalhadores do setor privado, entre os quais o nível de inadimplência estava em 3,19% em dezembro de 2023, de acordo com os últimos dados divulgados pelo Banco Central (BC). Mas, no quadro geral de superendividamento no país, os efeitos são mais graves.
Em dezembro passado, mais de 71 milhões de pessoas (41% da população adulta no Brasil) estavam em situação de inadimplência, de acordo com dados da Serasa.
De lá para cá, o grupo cresceu: em fevereiro, 72 milhões de brasileiros tinham pagamentos em atraso. Para a maior parte dos respondentes da pesquisa da Creditas, o principal objetivo neste ano é conseguir pagar as dívidas (27,9%).
Mas, da perspectiva do consumidor, a busca por se reorganizar financeiramente é como o castigo de Sísifo: o esforço de economia precisa ser suficiente para honrar os compromissos de pagamentos e compensar a perda de poder aquisitivo. Quando isso se torna impossível, muitas pessoas caem em uma espiral de endividamento.
Isso porque o salário médio do brasileiro não acompanhou o aumento dos preços em 2023, e o acesso a crédito no mercado segue restrito.
O estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com base nos resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua) apontou um crescimento de 3,1% na renda habitual média do trabalhador brasileiro em 2023 (R$ 3.078) frente a 2022 (R$ 2.985). No mesmo período, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou o ano acumulada em 4,62%.
Na prática, o cidadão médio perdeu poder de compra. Além disso, as taxas de juros em linhas de crédito para pessoas físicas nos grandes bancos subiram, ainda que a Selic tenha saído de 13,75% ao ano para os atuais 10,75% ao ano.
Aumento da Inadimplência e Restrição de Crédito
E isso se explica por dois fatores do mercado:
- elevação da inadimplência nas carteiras de crédito dessas instituições; e
- redução da oferta de crédito.
Segundo o levantamento do Procon-SP com os principais bancos comerciais do país, a taxa média de juros para empréstimo pessoal em março era de 7,87% ao mês, contra uma taxa média de 7,63% ao mês no mesmo período em 2023.
Esforços para contornar a inadimplência
Em dezembro passado, o Conselho Monetário Nacional (CMN) se debruçou sobre o tema do endividamento.
Nas decisões conjuntas com o BC, o órgão anunciou medidas para combater o avanço da inadimplência no mercado:
- primeiro, fixou um teto de 100% para a cobrança dos juros no rotativo do cartão de crédito (válido apenas para as dívidas contraídas a partir de janeiro deste ano);
- na sequência, determinou que as instituições financeiras adotem medidas de educação financeira direcionadas a seus clientes pessoas físicas e jurídicas.
Na falta de um acordo para autorregulação do mercado, a primeira medida foi a forma que o regulador encontrou para frear cobranças abusivas de juros no rotativo do crédito.
Antes, essas taxas passavam de 400% ao ano. Já o segundo pilar foi estabelecido com o intuito de que, mais instruídas sobre os produtos financeiros e as dinâmicas de cobrança do sistema, as pessoas possam tomar decisões conscientes do que estão contratando e que riscos estão correndo.
A resolução estabelece que, a partir de 1º de julho deste ano, as instituições financeiras devem ‘disponibilizar conteúdo e ferramentas, em linguagem, canal e momento mais adequados frente às características e às necessidades de educação financeira dos clientes e usuários, considerando o perfil do público-alvo‘, definiu o BC.
Problemas Gerados pelo Descontrole das Contas
A pesquisa da Creditas revela que a saúde financeira tem impacto direto na qualidade de vida das pessoas. Questionados sobre como o descontrole das contas afeta sua saúde, respondentes apontaram o desenvolvimento de quadros de ansiedade (38,2%), estresse (24,8%), tristeza (18,2%) e até depressão (9,2%). ‘O valor dos serviços de educação financeira está justamente ligado à promoção desse bem-estar’, avalia a executiva da Creditas.
Desde 2018, a fintech promove conteúdos de educação financeira em suas plataformas e para empresas parceiras, uma operação que, segundo Ana Virginia, já está adequada à decisão do BC.
Para ela, a chave para ações efetivas em educação financeira é a adequação do conteúdo às demandas e hábitos dos públicos que a instituição pretende atingir.
‘Temos canais diferentes para promover nossos conteúdos: redes sociais, webinars e até palestras presenciais, necessárias, por exemplo, quando falamos com funcionários de fábricas’, conta. ‘No app, lançamos trilhas de conhecimento com campanhas pautadas também pelo nosso calendário.
Esse trabalho afunila até o nível da consultoria financeira personalizada, quando o cliente procura atendimento pela plataforma. É um serviço promovido até para que a oferta de crédito seja mais adequada e esse pagamento fique confortável para o cliente.’
Fonte: @ Valor Invest Globo