O Inep disponibiliza a ‘vista pedagógica’ da redação do Enem para auxiliar os alunos nos estudos. FUNDEB, investimentos na educação e desigualdades econômicas são temas abordados.
O trabalho de cuidado é fundamental para o bem-estar de muitas famílias, pois engloba diversas ações voltadas para o cuidado com crianças, idosos e pessoas com necessidades especiais. As cuidadoras desempenham um papel essencial nesse contexto, oferecendo suporte emocional, físico e psicológico para aqueles que precisam.
O trabalho doméstico muitas vezes está intrinsecamente ligado ao trabalho de cuidado, uma vez que envolve a organização e limpeza dos ambientes onde as atividades de cuidado são realizadas. As cuidadoras desempenham uma importante função de cuidadoras não apenas no âmbito familiar, mas também em instituições de acolhimento, contribuindo para o bem-estar e qualidade de vida daqueles que necessitam de cuidados especiais.
Ampliando a Visibilidade do Trabalho de Cuidado
Nesta extensão, vamos explorar de forma mais detalhada a importância do reconhecimento do trabalho de cuidado realizado pelas mulheres. A valorização desse trabalho doméstico e das funções de cuidadoras é essencial para a equidade de gênero e o bem-estar social. Os temas abordados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) são reflexos das questões contemporâneas que permeiam a invisibilidade do trabalho de cuidado.
Em 2022, os participantes foram desafiados a refletir sobre questões como:
- ‘Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil’
- e ‘Desafios para a (re)inserção socioeconômica da população em situação de rua no Brasil’ (com a reaplicação da prova em dezembro para grupos específicos).
⚠️Observação: é importante destacar que as transcrições abaixo refletem fielmente os textos dos participantes, mesmo com possíveis erros de português.
✏️Maria Luiza Januzzi, de Valença (RJ)
Segundo a pensadora brasileira Djamila Ribeiro, a primeira etapa para solucionar uma questão é retirá-la da invisibilidade.
No contexto atual do Brasil, as mulheres enfrentam inúmeros obstáculos para que seu trabalho de cuidado seja reconhecido, impactando suas vidas de forma significativa, como a falta de valorização.
Essa problemática decorre da negligência governamental e da influência midiática. Nesse sentido, é fundamental observar a falta de ações do Estado em relação aos desafios diários enfrentados pelas mulheres que desempenham funções de cuidadoras. Conforme John Locke, ‘as leis são elaboradas para os homens e não para as leis’.
A inércia governamental em relação a essas pessoas não condiz com o que está estabelecido na legislação, já que a falta de investimento em políticas públicas gera complexidades no contexto profissional desse setor – incluindo a desvalorização salarial. Isso contribui para que suas necessidades sejam cada vez mais ignoradas.
Além disso, a influência dos meios digitais é um fator agravante nesse problema. De acordo com Chimamanda Adichie, alterar o ‘status quo’ – o estado atual das coisas – é sempre desafiador.
Essa perspectiva se reflete no papel desempenhado pela mídia na luta diária das mulheres que exercem funções de cuidado ou domésticas, uma vez que ela fortalece uma mentalidade machista na sociedade. Isso resultou na marginalização da população feminina, perpetuando a lógica patriarcal em nossa cultura.
Diante disso, as mulheres perdem sua voz na busca por direitos profissionais no âmbito do cuidado, uma vez que se propaga a ideia de que essa função é exclusivamente sua responsabilidade. Portanto, é crucial que essa situação seja resolvida.
O governo, como responsável pela garantia do bem-estar de todos, deve oferecer apoio psicológico e financeiro às cuidadoras, por meio de investimentos e do cumprimento das leis, a fim de mitigar a vulnerabilidade socioeconômica presente no cotidiano desses grupos.
Paralelamente, os meios de comunicação devem combater a ideia de inferioridade e a concepção machista associadas a esse trabalho. Dessa forma, será possível solucionar essa questão, removendo-a da invisibilidade, como propõe Djamila.
✏️Matheus Almeida Barros, de Paraíso (TO)
Através do livro ‘Brasil, país do futuro’ – escrito no século passado – o autor austríaco Stefan Zweig expressou sua crença de que a nação cresceria e se desenvolveria de forma exponencial.
No entanto, nos dias atuais, a sociedade brasileira enfrenta uma realidade oposta, onde a invisibilidade feminina relacionada ao trabalho de cuidado e seus efeitos negativos na contemporaneidade não condizem com a visão de um ‘país do futuro’.
Dessa forma, algumas falhas governamentais impulsionam a desvalorização do trabalho de cuidado realizado pelas mulheres no Brasil e fomentam o surgimento de diversas disparidades econômicas. É primordial ressaltar a eficácia limitada das leis voltadas ao público feminino como um fator que intensifica a invisibilidade do esforço doméstico e de cuidado desse grupo.
Nesse sentido, o escritor brasileiro Gilberto Dimenstein argumenta que a legislação do país opera apenas no papel e, na prática, é ineficaz.
Esse cenário pode ser confirmado pela aplicação inadequada das leis trabalhistas destinadas às mulheres, uma vez que tais normas não garantem efetivamente os direitos fundamentais das mulheres, especialmente no ambiente de trabalho, resultando em uma dependência dessas mulheres ao cuidado doméstico, que é frequentemente desvalorizado e, em muitos casos, não remunerado.
Dessa forma, a ineficácia do sistema legislativo promove uma exploração extrema da população feminina no país. Além disso, vale destacar a falta de recursos destinados à educação como um fator que agrava e menospreza o trabalho de cuidado realizado pelas mulheres no Brasil.
Nesse contexto, o filósofo esloveno Slavoj Zizek afirma que os políticos liberais modernos priorizam os interesses de mercado e negligenciam ações que possam beneficiar a coletividade.
Dessa maneira, observa-se uma negligência estatal que menospreza a importância da educação ao não investir na capacitação feminina, impedindo a inserção desse grupo no mercado de trabalho e obrigando as mulheres a desempenharem os desvalorizados ‘trabalhos de cuidado’.
Sendo assim, ações que visem elevar a qualidade do sistema educacional brasileiro tornam-se cada vez mais urgentes. Portanto, diante dos obstáculos que prejudicam a valorização do trabalho de cuidado feminino, medidas precisam ser tomadas para combatê-los.
Cabe ao governo federal realizar fiscalizações legislativas e, através de inspeções e vistorias em residências vulneráveis, verificar se as leis trabalhistas femininas estão sendo aplicadas corretamente, a fim de evitar a exploração das mulheres que realizam trabalhos domésticos.
Além disso, o Ministério da Educação deve, por meio do FUNDEB – Fundo Nacional de Educação Básica, destinar investimentos às escolas para promover uma educação ampla e inserir as mulheres em um mercado de trabalho justo.
Apenas assim, o público feminino conquistará a merecida visibilidade no campo do trabalho.
✏️Luana Pizzolato, de São Bernardo do Campo (SP)
O final do século XX no Brasil foi marcado por diversos movimentos sociais, incluindo aqueles que buscavam romper com as desigualdades de gênero que prejudicavam as mulheres na sociedade.
Apesar dos avanços conquistados pelos movimentos, ainda existem desafios que afetam o dia a dia das brasileiras, como a invisibilidade do trabalho de cuidado. De fato, essa questão é influenciada pelo sistema capitalista e pela manutenção da visão patriarcal. Portanto, é essencial superar esses desafios e lidar com essa problemática. Nesse sentido, é importante analisar a relação entre o modelo econômico e a invisibilidade mencionada. De acordo com a teoria do sociólogo Karl Marx, os proprietários dos meios de produção, no capitalismo, buscam o lucro máximo possível. Sob essa perspectiva, percebe-se que essa mentalidade econômica ainda governa as relações atuais, incluindo as do Brasil.
Assim, em um contexto onde o trabalho de cuidado não gera o lucro desejado pelas empresas, ele é ignorado e mal remunerado. Portanto, é evidente que o sistema capitalista representa um obstáculo para as mulheres nesse aspecto. Além disso, é fundamental ressaltar o impacto da manutenção da visão patriarcal na questão da invisibilidade.
Essa situação é explicada pelo fato de que, desde o período colonial do Brasil, as mulheres foram designadas a desempenhar funções domésticas e de cuidado, uma vez que não eram consideradas capazes de exercer outras ocupações. Ao relacionar essa situação com os dias atuais, fica claro que essa convenção social sobre o papel das mulheres foi mantida para perpetuar o privilégio dos homens, que detêm o poder.
Portanto, como esses homens se consideram superiores, não há um esforço para valorizar o trabalho de cuidado, pois ele é visto como uma obrigação intrínseca e exclusiva do gênero feminino. Em resumo, é evidente que mudanças são necessárias para enfrentar os desafios da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pelas mulheres.
Nesse sentido, cabe ao poder legislativo, como detentor dos meios legais de transformação, criar leis que tornem obrigatória a remuneração digna desse trabalho e garantir sua valorização. Essa proposta deve ser debatida e aprovada na Câmara dos Deputados, com o objetivo de acabar com a invisibilidade associada a esse trabalho.
Assim, essa questão deixará de ser um problema na sociedade brasileira.
✏️Heloísa Vitória Silva, de Lagarto (SE)
Na obra ‘Utopia’, de Thomas More, é retratada uma sociedade ideal e harmoniosa, livre de conflitos e problemas.
No entanto, na realidade atual, longe da ficção, a sociedade enfrenta desafios para lidar com a invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pelas mulheres no Brasil. A negligência governamental e as disparidades sociais são fatores que contribuem para esse cenário. Percebe-se, inicialmente, que a falta de ação do Estado está diretamente ligada a esse problema.
Nessa perspectiva, de acordo com o filósofo John Locke, é considerado um rompimento do Contrato Social quando o Estado não cumpre sua função de garantir que todos tenham seus direitos assegurados.
Dessa forma, devido à ineficácia das medidas governamentais e à falta de legislação adequada, os obstáculos para superar a invisibilidade enfrentada por aquelas que atuam como cuidadoras, seja como babás, donas de casa ou empregadas domésticas, têm aumentado no Brasil. Além disso, é importante destacar a situação de vulnerabilidade em que muitas cuidadoras se encontram como impulsionadora desse problema. Nesse sentido, segundo o escritor Ariano Suassuna, o Brasil é dividido em dois países distintos: o país dos privilegiados e o país dos desprovidos.
Dentro desse contexto, muitas mulheres vivem em condições precárias e acabam aceitando situações desfavoráveis, até mesmo trabalhando sem remuneração; isso contribui para o agravamento das dificuldades em enfrentar essa problemática e faz com que essas mulheres se tornem cada vez mais invisíveis perante a sociedade.
Portanto, é essencial que ocorram mudanças significativas. Assim, é imperativo combater essa questão no Brasil.
Cabe ao Governo, por meio do Ministério do Trabalho, criar leis mais rigorosas e implementar projetos sociais, através de petições e da campanha ‘Cuidar também é trabalhar’, a fim de superar os desafios enfrentados pelas mulheres que exercem funções de cuidado e garantir que sejam reconhecidas, não sofrendo mais com a invisibilidade e a desvalorização.
Dessa forma, estaremos mais próximos de uma sociedade como a utópica retratada por Thomas More.
Fonte: © G1 – Globo Mundo