Geógrafa Maria Encarnação Beltrão Sposito explica que a fragmentação socioespacial urbana é uma tendência de composição da cidade menos integrada, afetando o direito à cidade e práticas espaciais, imaginários e sociais.
A pesquisa “Fragmentação Socioespacial e Urbanização Brasileira: Escalas, Vetores, Ritmos, Formas e Conteúdos” realizou um estudo aprofundado sobre a fragmentação em dez áreas urbanas brasileiras, incluindo oito cidades médias e dois distritos urbanos da Região Metropolitana de São Paulo (SP). A coordenadora da pesquisa, Maria Encarnação Beltrão Sposito, professora titular da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp) em Presidente Prudente (SP), liderou a equipe em uma análise detalhada da fragmentação socioespacial em diferentes contextos urbanos.
O estudo revelou que a fragmentação socioespacial está intimamente relacionada à dispersão de grupos sociais em diferentes áreas da cidade, levando à formação de bolsões de pobreza e exclusão social. Além disso, a pesquisa também identificou a segregação espacial como um fator que contribui para a estigmatização de certos grupos sociais, perpetuando a desigualdade e a injustiça social. A equipe de pesquisa realizará um workshop de encerramento para discutir os resultados e as implicações da pesquisa para a política urbana e social no Brasil. A busca por soluções para a fragmentação socioespacial é um desafio contínuo para as cidades brasileiras.
Fragmentação Socioespacial: Um Estudo sobre a Tendência de Composição da Cidade
A pesquisadora Maria Encarnação explicou que o processo estudado foi a fragmentação socioespacial, que se refere à tendência de composição da cidade e da vida urbana de modo menos integrado do que no passado. Esse processo pode ocorrer de três modos diferentes: dispersão do tecido urbano, práticas espaciais e imaginários sociais. A dispersão do tecido urbano ocorre quando a cidade cresce em território mais do que em população, aumentando os terrenos não ocupados e criando descontinuidades. As práticas espaciais se referem à forma como os moradores se separam social e espacialmente em seus cotidianos, diminuindo os espaços compartilhados por diferentes classes sociais. Já os imaginários sociais são modos como representamos coletivamente o que são os espaços bons e os demais nas cidades, gerando práticas de evitação, segregação ou estigmatização territorial.
A ideia para o estudo surgiu de outras pesquisas realizadas anteriormente, que mostraram uma maior separação entre os grupos sociais nas cidades. A pesquisa contou com a participação de 130 pessoas de diferentes universidades brasileiras e internacionais, incluindo a Université de Paris e a The London School of Economics and Political Science. A maior parte dos pesquisadores foi do campus da Unesp, em Presidente Prudente, que sediou e coordenou a pesquisa.
Fragmentação Socioespacial e Direito à Cidade
O estudo visou compreender como o processo de fragmentação socioespacial altera o conteúdo da diferenciação e das desigualdades, redefinindo os sentidos do direito à cidade. A pesquisadora afirmou que a fragmentação socioespacial pode levar a uma maior segregação e estigmatização territorial, afetando a mobilidade urbana e o direito à cidade. Além disso, a dispersão do tecido urbano pode criar descontinuidades e aumentar os terrenos não ocupados, afetando a qualidade de vida dos moradores.
A pesquisa também analisou as práticas espaciais e os imaginários sociais que contribuem para a fragmentação socioespacial. A pesquisadora afirmou que os resultados do estudo serão apresentados em um congresso da Universidade de Lisboa, em Portugal, no dia 6 de novembro. O estudo é importante para entender como a fragmentação socioespacial afeta a vida urbana e como podemos trabalhar para criar cidades mais integradas e justas.
Fonte: © G1 – Globo Mundo