Perspectiva de juros mais altos deixa banco americano desconfortável com a bolsa devido à política fiscal, crescimento forte e inflação mais alta, superando expectativas de superciclo das commodities.
Diante do cenário de aperto monetário no Brasil, os especialistas do J.P. Morgan estão reavaliando suas expectativas em relação às ações brasileiras. Com a perspectiva de juros mais altos do que o previsto anteriormente, eles começam a questionar se o mercado de ações brasileiro ainda é um investimento atraente.
Considerando a tendência histórica de que o Ibovespa não costuma ter um desempenho positivo durante ciclos de alta de juros, os estrategistas do J.P. Morgan estão se tornando mais cautelosos em relação às ações nacionais. A incerteza econômica é um fator importante a ser considerado. Além disso, a valorização dos papéis brasileiros pode ser afetada negativamente por essa nova perspectiva de juros mais altos, o que pode levar a uma reavaliação das estratégias de investimento no mercado de ações brasileiro. É hora de repensar as apostas no mercado.
Ações brasileiras: um desafio em meio à alta dos juros
O banco americano J.P. Morgan mudou sua avaliação sobre a política monetária do Banco Central (BC) brasileiro. Inicialmente, considerava que uma pequena correção nos juros seria suficiente para mostrar credibilidade, mas agora entende que é uma necessidade mais estrutural. A equipe de estratégia de ações brasileiras, liderada por Emy Shayo Cherman, afirma que o objetivo das altas é multidimensional: o crescimento econômico está muito forte, a política fiscal está muito frouxa, os incêndios recentes estão levando a uma inflação mais alta e as expectativas de inflação estão subindo.
Os profissionais lembram que o mercado de ações brasileiro raramente apresenta um bom desempenho durante o aumento da taxa de juros. Desde 2008, os papéis brasileiros nunca performaram bem durante os períodos de aperto. No entanto, nos dois primeiros ciclos de aperto da série, de 2002 a 2003 e de 2004 a 2005, as ações tiveram um bom desempenho devido ao superciclo das commodities.
O impacto da alta dos juros nas ações nacionais
Após o fim da valorização dos preços das matérias-primas, a bolsa brasileira respondeu como esperado ao aumento das taxas e recuou em média 11%. Apenas os setores de tecnologia da informação e de bens de consumo apresentaram um desempenho médio positivo. Em relação ao pacote de estímulos na economia chinesa, o J.P. Morgan lembra que, apesar de existir historicamente uma correlação positiva entre períodos de valorização na China e alta no MSCI Brazil, após a pandemia essa dinâmica não existe mais.
A correlação entre a China e o Brasil foi de 0,65 de 2005 a 2019, mas após a covid-19, a correlação é negativa, de -0,91. A menos que o estímulo gere um crescimento maior na China, permitindo preços sustentáveis mais altos para as commodities, o Brasil pode não necessariamente se valorizar. Na avaliação dos profissionais, enquanto estímulos à economia local se traduziriam em um melhor desempenho de ações de companhias cíclicas domésticas, estímulos à economia global podem gerar maior apetite por ações de valor e com ‘beta’ alto.
Recomendações para as ações brasileiras
No caso das ações brasileiras, o indicador mede o risco-retorno do papel na comparação com o Ibovespa. Assumimos que a ausência de uma recessão global poderia dar apoio às ações brasileiras, na visão dos estrategistas do J.P. Nesse caso, commodities e energia seriam ideais, assim como o setor bancário. A boa notícia é que são empresas são robustas o suficiente para atrair capital estrangeiro de volta ao Brasil. Por outro lado, diante da alta das taxas, o banco recomenda evitar ações cíclicas domésticas, especialmente nos setores de varejo e imobiliário, que são mais sensíveis aos períodos de aperto monetário.
Fonte: @ Valor Invest Globo
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