Tese de que a taxa básica deve parar de cair neste ano, mas voltar a descer em 2025, ganha força no mercado e afiliações do Copom.
O prazo de Roberto Campos Neto como presidente do Banco Central termina no fim deste ano. Com isso, se despedem também outros dois membros da diretoria que, assim como o novo presidente da autoridade monetária, serão substituídos por nomes indicados pelo atual governo. Assim, os indicados pelo presidente Lula serão maioria, impactando diretamente as decisões sobre a Selic.
Essas mudanças na diretoria do Banco Central podem influenciar a definição da taxa básica de juros, conhecida como Selic, que é um dos principais instrumentos de controle da inflação no Brasil. A expectativa do mercado em relação à próxima reunião do Comitê de Política Monetária é alta, com especulações sobre possíveis ajustes na Selic.
Selic: A Taxa Básica em Foco
A troca de presidência do Banco Central já está causando aflições no mercado, especialmente após a última reunião do Copom mostrar uma divergência de opiniões entre os membros do comitê indicados no governo anterior e os diretores escolhidos pelo presidente atual. Afinal, com a mudança no comando do Banco Central, o que deve acontecer com a Selic? Segundo alguns analistas, a tese de que a taxa básica deve parar de cair neste ano e voltar a cair no ano que vem ganha cada vez mais força.
Primeiro, é preciso relembrar o ‘racha’ dos membros do Comitê de Política Monetária (Copom) na última reunião. Na ocasião, os quatro diretores indicados pelo governo atual votaram por um corte maior da Selic, de 0,5 ponto percentual. Já os outros cinco, indicações do governo anterior, votaram por um corte mais brando, de 0,25 ponto percentual. Com isso, levantou-se a hipótese de que os indicados pelo novo governo poderiam ser ‘mais tolerantes’ a uma inflação mais alta. Isso acontece porque os juros são o mecanismo de controle da alta dos preços usado pelo Banco Central.
Portanto, se a inflação assusta, a Selic fica em patamares mais elevados, a fim de ‘encarecer’ o dinheiro. Assim, os empréstimos e financiamentos (tanto dos consumidores quanto das empresas) ficam mais caros. Com isso, há menos consumo, menos dinheiro em circulação e os preços tendem a voltar a cair. Quem ‘ganhou’ a disputa, no entanto, foi a turma do Copom mais preocupada com a inflação a ponto de diminuir o ritmo de cortes.
Na ata da reunião, a autoridade monetária afirmou ter observado uma ‘elevação na projeção de inflação para o horizonte relevante’, especialmente por conta dos dados fortes do mercado de trabalho, o que a levou a adotar uma postura mais conservadora. Mas, segundo analistas, pode ser que essa postura seja revisada no próximo mandato do Banco Central. Segundo o economista André Perfeito, essa mudança deve acontecer não pelo fato de os diretores indicados por Lula serem ‘mais tolerantes à inflação’, mas sim pela queda de juros que deve começar a ser vista nos Estados Unidos ‘em algum momento deste ano’, de acordo com o especialista.
Ele explica que, quando os juros começarem a ser cortados nos EUA, existirá uma ‘cobrança’ para que isso também aconteça no Brasil. ‘É possível que o Banco Central do Brasil pare de cortar os juros antes mesmo de o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) começar a cortar. E quando o Fed cortar, o mercado vai pedir para que aconteçam cortes aqui também’, diz. É importante lembrar que quando os juros estão altos nos EUA (como é no cenário atual, em que eles estão em patamares recordes), isso atrai investimentos para os títulos públicos americanos, considerados os mais seguros do mundo e que, neste momento, estão com rendimentos altos justamente por conta dos juros elevados. E isso se reflete aqui.
Selic: O Papel da Taxa Básica na Economia
Uma vez que as taxas americanas estão altas, o Brasil também precisa manter os juros um pouco mais altos para que seus títulos consigam ‘competir’ com os americanos e também atrair investidores estrangeiros. A afiliação do Copom com a política monetária é crucial para o controle da inflação e dos altos preços. A força básica por trás das decisões do Comitê reflete a complexidade do cenário econômico atual.
A presidência do Banco Central, sob a liderança de Lula, majoria dos diretores e suas afiliações políticas influenciam diretamente as decisões sobre a Selic. O mercado financeiro está atento às movimentações do Copom e às projeções futuras da taxa básica de juros. A volatilidade nos mercados pode ser resultado das expectativas em relação às decisões do Comitê.
A dinâmica entre as diferentes visões dentro do Copom e a interação com o mercado financeiro são elementos-chave para entender o cenário econômico atual. O equilíbrio entre a necessidade de controlar a inflação e estimular o crescimento econômico é um desafio constante para o Banco Central. A transparência nas decisões do Copom e a comunicação eficaz com o mercado são essenciais para garantir a estabilidade financeira e o crescimento sustentável da economia.
Fonte: @ Valor Invest Globo