Em instituições privadas, jovens trabalham para pagar o curso de graduação, sem tempo para aulas periféricas e disciplinas. Desinteresse e autossabotagem são comuns, com formação cultural mínima.
Em meio à intensa discussão sobre o modelo de trabalho em voos internacionais, a escala 6×1 se tornou o foco de atenção para muitos profissionais da aviação. A redução drástica no tempo de descanso entre voos tem levado a diversos problemas de saúde, como fadiga e estresse, que afetam diretamente a qualidade de vida dos trabalhadores.
Com a necessidade de atender às demandas crescentes de voos, as empresas aéreas têm buscado formas de otimizar seus horários de voo e escalas. No entanto, a escala 6×1, que permite a realização de seis voos em apenas um período de trabalho de 24 horas, tem sido amplamente criticada por sua absoluta falta de tempo de descanso. Não há tempo para a recuperação adequada entre voos, levando a um colapso físico e mental dos pilotos. Alguns profissionais, como o piloto _Felipe Jorge_, denunciam a exposição extrema a ritmos de trabalho intensos e a consequências nefastas à saúde, como pressão arterial alta e problemas de sono.
Tempo Insuficiente e Desafios no Ensino Superior
Em um período em que a sociedade valoriza a especialização em diversas áreas, resultando em analfabetos em Educação, é essencial lembrar que sou um professor de faculdade há 15 anos. Durante esse tempo, observei jovens periféricos que alcançaram a universidade, muitas vezes em instituições particulares da capital paulista e Região Metropolitana.
Essa realidade é comprovada por histórias de estudantes que sonham em estudar na USP, como a aluna de engenharia da favela São Remo, que declarou: ‘Sempre sonhei em estudar na USP’. Além disso, alunos da favela vizinha relatam ter levado pelo menos dois anos para entrar na USP, como o aluno da favela, que estuda Arquitetura e não sabia o que era USP.
No entanto, a realidade é que a escala de trabalho 6×1 é uma grande dificuldade para atender ao mínimo de tempo que um curso superior exige. Dando aulas para estudantes que trabalham seis dias por semana em shoppings, redes de lanchonetes, no comércio e similares, escuto constantemente a reclamação sobre a falta de tempo. Com a escala 6×1, escravizante, estudar é um luxo que jovens periféricos não podem se dar.
A vida é gasta basicamente no seguinte: trânsito pode colocar quatro horas; trabalho, em geral, oito horas. Foi metade do dia. Aí vai pra faculdade. Faculdade: três horas, mais ou menos de sete até dez da noite. Foram 15 horas. Nessa conta apertadinha, sobrariam nove horas para fazer outras coisas. Mas quem é do corre em São Paulo sabe que não dispõe de nove horas livres por dia. Falta tempo para o básico, como ler textos indicados pelos professores e fazer trabalhos.
Na maioria dos cursos de graduação, são de três a cinco disciplinas por semestre. Aí vem o meritocrata e diz ‘tem que estudar no dia livre, varar madrugadas’. Não tem, embora há quem faça, pelos motivos mais justificáveis do mundo. Sabe qual a utopia? Ter tempo para descansar corpo e mente, ler um livro, ir ao cinema, construir de fato uma formação cultural mínima.
Mas nem a formação para a qual a pessoa está se formando é plenamente possível. E não por dilemas educacionais profundos, complexos, não; simplesmente pela falta de tempo, uma questão cruamente matemática, lógica. Não sei se, dado o eventual passo civilizatório da abolição da escala 6×1, o ensino superior vai melhorar. Mas com certeza o professor poderá cobrar mais, em contexto mais favorável, e poderá, inclusive, rechaçar desculpas esfarrapadas de quem não corre atrás, mas usa a real dificidade alheia para justificar sua inação.
Fonte: @ Terra