TJGO anula sentença de 18 anos devido a erro de competência, garantindo princípio da não surpresa, contraditório e ampla defesa no processo legal de revisão criminal.
Uma decisão inédita foi tomada pelo Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO), que anulou a sentença de 18 anos de prisão imposta a um ex-condenado. Essa medida foi possível graças à 2ª Seção Criminal, que reconheceu a nulidade da condenação.
A anulação da sentença foi motivada por um erro de competência do juízo original que proferiu a decisão. Esse erro foi considerado grave o suficiente para justificar a anulação da condenação. Com essa decisão, o ex-condenado pode ter uma nova chance de julgamento, que pode resultar em uma decisão mais justa. A justiça está sendo feita.
Revisão de Sentença: Um Caso de Erro Processual Grave
O caso em questão foi patrocinado pelo advogado Maurício Machado, que apontou falhas processuais graves que levaram à condenação do réu. Inicialmente, o réu havia sido acusado de tentativa de homicídio doloso, crime de competência do Tribunal do Júri. No entanto, durante o curso do processo, o magistrado de primeira instância desclassificou o crime para tentativa de latrocínio (art. 157, §3º c/c art. 14, II, do Código Penal). Apesar disso, o juiz continuou o julgamento e proferiu imediatamente a condenação, sem remeter o caso ao juízo competente para o crime desclassificado, violando o devido processo legal.
A defesa argumentou que, após a desclassificação, o juiz deveria ter enviado o processo para um juízo competente para julgar crimes não relacionados ao Tribunal do Júri. A condenação imediata, sem garantir a manifestação das partes e o contraditório, configurou cerceamento de defesa, em desacordo com o princípio da não surpresa, previsto no artigo 10 do Código de Processo Civil (CPC) e aplicado subsidiariamente ao processo penal, conforme o artigo 3º do Código de Processo Penal (CPP).
Contexto Jurídico: Revisão de Sentença
A revisão de sentença é um instrumento de revisão de sentenças com trânsito em julgado que visa corrigir erros processuais graves. Neste caso, o TJGO seguiu o entendimento doutrinário e jurisprudencial que estabelece que, quando ocorre a desclassificação de um crime doloso contra a vida, o juiz não pode imediatamente julgar o mérito do caso. Ele deve, primeiro, remeter o processo ao juízo competente e permitir a manifestação das partes sobre a nova classificação do crime.
O relator da revisão de sentença, Rogério Carvalho Pinheiro, destacou que a decisão do juízo de primeira instância, ao condenar o acusado sem dar a oportunidade de manifestação, violou o princípio do contraditório e da ampla defesa. Esse entendimento está de acordo com doutrina renomada, como a de Guilherme de Souza Nucci e Gustavo Badaró, que reforçam que a mudança de competência deve ser acompanhada pela abertura do contraditório antes da sentença condenatória.
Implicações e Decisão do TJGO
O TJGO, por unanimidade, decidiu pela anulação da sentença de 18 anos, destacando que a decisão de primeira instância incorreu em nulidade parcial. O processo deve retornar à origem para que o novo juízo competente garanta a observância do contraditório e da ampla defesa antes de qualquer novo julgamento. A anulação da sentença não significa a absolvição do ex-condenado, mas sim a necessidade de refazer o julgamento, corrigindo o erro de competência e assegurando que as partes possam se manifestar de acordo com o devido processo legal.
A revisão de sentença, neste caso, reafirma sua importância no sistema de justiça penal, especialmente para corrigir falhas que podem levar a condenações injustas. A decisão do TJGO é um exemplo de como o sistema de justiça pode ser corrigido e melhorado, garantindo que os direitos dos cidadãos sejam respeitados e protegidos.
Fonte: © Direto News
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