Desbravando a dependência por chamar a atenção dos outros, um psicólogo americano reflete sobre seu trauma, drama e vício em busca de sobrevivência em ambiente instável, com frenesi emocional e dificuldades de aprendizado.
Nossa vida é um verdadeiro drama. Coisas ruins parecem acontecer com a gente o tempo todo, não é mesmo? Tudo parece nunca dar certo. Os dias são como uma sequência constante de términos, traições, decepções e perdas. Eu estava sempre dizendo: ‘Essa é a história da minha vida’. Por mais que ninguém me chamasse de ‘dramático’ na minha cara, Deus sabe que era o que todos pensavam.
Era um ciclo vicioso de sofrimento e tensão. Eu não conseguia escapar desse caos que parecia me perseguir por todos os lados. Tudo era um grande drama, e eu era o protagonista infeliz dessa trama. Mas eu não sabia que havia uma saída, uma forma de mudar o curso dos acontecimentos e transformar minha vida em algo mais positivo. Afinal, a vida é um palco, e nós somos os atores.
Um Vórtice de Drama e Sofrimento
Eu sempre pensei que o drama estava em todo lugar, e que eu era apenas um mero espectador. Mas, na verdade, eu era o criador de todo aquele caos. Estava em busca de frenesis emocionais, gerando conflitos e inventando drama a cada oportunidade. As pessoas podem ter pensado que era para chamar atenção, mas a verdade é que o drama era minha forma de sobrevivência. Nasci com o pé na porta, quebrando duas costelas da minha mãe e a deixando hospitalizada por meses. Gerações de abuso e vício em álcool, drogas e jogo fizeram com que minha infância fosse caótica, com tapas e abraços sendo distribuídos igualmente. O ambiente instável alternava entre carinho e caos, e eu passei a esperar o inesperado.
O Drama como Forma de Sobrevivência
Na escola, eu sofria bullying tanto dos alunos quanto dos professores que não tinham paciência para um jovem gay com dificuldades de aprendizado. Muitas tardes, eu ficava trancado em um armário como um personagem de filme adolescente. Eu me sentia preso, sem ter para onde correr, e precisando fugir. Portanto, aos 13 anos de idade, fingi meu próprio suicídio – organizei a cena meticulosamente: espalhei comprimidos pelo chão, arrumei o quarto com a garrafa d’água a centímetros dos meus dedos e escrevi uma carta de despedida. Queria punir meus pais, meus colegas da escola, meus professores por me causarem tanta dor e por não enxergarem tudo isso, por não me protegerem nem me ajudarem. Queria que alguém me resgatasse e me levasse embora de todo aquele caos e sofrimento. Estava em busca de um profundo recomeço, como reiniciar um computador que ficou doido.
O Vício em Drama
O drama era tudo para mim. Depois da escola, eu até o transformei em profissão. Trabalhando como ator, diretor e coreógrafo profissional, estava sempre sob estresse. Meu trabalho era uma fonte constante de drama. Ao mesmo tempo, conheci um parceiro que desencadeou toda a minha dor e disfunção profundamente enterradas e as trouxe para a superfície. Eu sempre achei que fosse bom lidando com o estresse – o que não percebi é que estava usando o estresse para prosperar. Minha tolerância para disfunção, crise e caos estava sendo levada ao limite, e logo ficou claro que eu precisava mudar.
Fonte: @ Veja Abril